As formas da comunidade : Convivialidade, corpo e política pós-conflito entre os Ashaninka do rio Ene (Amazônia peruana)

As dinâmicas conviviais da vida contemporânea dos Ashaninka que habitam parte da Amazônia peruana são fortemente marcadas pelo passado recente do conflito armado interno no país e pelo contínuo avanço de ameaças armadas no presente. Como forma de lidar com esses passados-presentes de violência, práticas específicas de convivialidade são realizadas cotidianamente, moduladas por arranjos sociocosmológicos próprios e por negociações com a comunidade nacional. Este trabalho procura abordar os modos como a luta por direitos na arena da política institucional é conjugada (e “traduzida”) de acordo com tais modulações amazônicas da convivialidade, analisando sob que formas tais traduções políticas são produzidas por essas comunidades e a organização política que as reúne. A partir de uma perspectiva etno-histórica sobre o passado recente da política indígena entre as comunidades nativas no rio Ene, a hipótese é a de que falar em uma convivialidade Ashaninka significa levar a sério muito mais do que as relações intersubjetivas entre pessoas humanas, mas um delicado equilíbrio entre os corpos humanos, substâncias e outros seres dotados de agência.